JAIME LERNER É CAPA DA REVISTA TOPVIEW
A edição da Revista TOPVIEW de Julho - nas bancas a partir
desta sexta-feira (6) - tem como matéria de capa a entrevista com o arquiteto e
ex-governador do Paraná, Jaime Lerner. Em uma terça-feira cinzenta e gelada, um
Jaime Lerner de passos lentos e fala animada recebeu a equipe da revista para
uma entrevista que tentaria resgatar uma trajetória pessoal e profissional de
80 anos.
Confira alguns trechos da entrevista do arquiteto e
urbanista que tornou Curitiba a cidade-modelo:
Digitar Jaime Lerner no Google é ter uma pequena amostra do
quão célebre é o homem retratado na capa desta edição. Mais de duas milhões de
páginas estão relacionadas ao seu nome. Em imagens, há desde registros antigos
do arquiteto e urbanista, prefeito de Curitiba por três vezes (1971-1975,
1979-1983 e 1989-1992) e governador do Paraná em dois mandatos consecutivos
(1995-2002), até cliques com personalidades como Paulo Leminski e de cenários
clássicos (como a Rua XV e as estações-tubo) da nossa cidade e, talvez, sua
grande obra, entre tantas outras – Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador,
Havana, Caracas e Shangai estão entre as cidades para as quais ele desenvolveu
planos urbanísticos ou prestou consultoria.
“Se você quer criatividade, corte um zero do orçamento. Se
quer sustentabilidade, corte dois zeros.”
“A gente sempre trabalhou desta maneira: simples e alegre.
Não tem nada que eu tenha feito sem alegria.”
“O sistema de [transporte de] Curitiba decaiu bastante, mas
pode ser retomado facilmente.”
“A minha maior frustração é não saber tocar um instrumento
musical.”
“Uma das coisas de que eu não gosto é o programa ‘Minha
Casa, Minha Vida, Meu Fim de Mundo.’”
“[Meu legado é]: pessoas que me acompanharam e que são
criativas e podem resgatar a qualquer momento a Curitiba que todos nós amamos.”
“O que eu mais gosto é [quando] um motorista dá uma buzinada
para mim… é uma alegria incomensurável (...) eu gosto de ser adulado.”
A gente vê muitas pessoas criativas, com ideias, mas
ninguém parece ter conseguido fazer tanto quanto o senhor fez. Como conseguiu
tirar tantas ideias do papel?
É importante começar. Tem um pessoal formidável que me
acompanha, eu tenho muita sorte de tê-los. E tudo o que a gente fez foi sempre
um compromisso com a simplicidade e a imperfeição. O importante é começar as
coisas.
Dar o primeiro passo.
A criatividade acontece quando você começa. Não tenha medo
de começar. Hoje em dia, a gente nota vários governos, pessoas que querem todas
as respostas antes, daí não vão fazer pela insegurança, pelo receio, pelo medo.
Parece uma ideia tão simples...
É simples. Se você quer criatividade, corte um zero do
orçamento. Se quer sustentabilidade, corte dois zeros. Agora, se quer
identidade, assuma a sua e respeite a dos outros. A gente sempre trabalhou
desta maneira: simples e alegre. Não tem nada que eu tenha feito sem alegria.
Ser rebelde também é importante? O senhor, na faculdade,
por exemplo, era contra o Plano Agache (segundo grande plano urbanístico de
Curitiba).
Não necessariamente, mas rebeldia, sim. E ajuda estar ligado
em tudo: literatura, teatro, música. Sempre gostei de ter comigo jornalistas,
porque eles estão acostumados a terminar [o que começam] no outro dia. E
artistas, psicólogos, filósofos, porque eles têm uma pele mais fina e sentem a
sociedade antes. Essa é uma maneira de viver, de trabalhar e de ter alegria. Se
não for uma coisa que me traga alegria, hoje em dia, eu não faço. Nós somos
oito sócios, mais arquitetos, estudantes, estagiários, então a gente trabalha
sempre por prazer. Para mim, não interessa assinar contratos. Agora, nós
estamos trabalhando em muitas cidades: Rio, São Paulo, Porto Alegre. Porto
Alegre é um projeto bonito e me dá alegria saber que a gente pode devolver a
visão do Lago Guaíba para o porto alegrense. Eu acho gratificante. Também
porque é uma obra simples, que não é cara, neste país onde tudo tem sobrepreço:
é uma obra honesta, limpa, transparente e vai ser bonita. Nós estamos
trabalhando também em Angola, em 13 cidades. O presidente de lá queria que a
gente fizesse projetos habitacionais, aí eu respondi “nós não fazemos só casas,
tentamos criar uma maneira de viver”. Levou um tempo para convencê-lo.
E tudo começou aqui, em Curitiba. Querendo ou não, foi um
modelo copiado, usado como referência. Entre tantos projetos criativos e
rebeldes, qual foi o mais desafiador?
Várias coisas. A solução do transporte foi tão bonita,
gratificante, porque todo mundo dizia que uma cidade, quando chega perto de um
milhão [de habitantes], tem que ter um metrô. Nós não tínhamos recurso e
começamos a pensar: por que não fazer uma solução de superfície, que tivesse
embarque rápido, que o passageiro não tivesse que esperar muito? Na primeira
semana, [foram] 50 mil passageiros. Hoje, são [mais de 150] cidades no mundo
que adotaram o BRT de Curitiba. Bogotá, Seul, Istambul, Rio e muitas cidades na
Europa, na China, no México. Você vê isso acontecendo e é o que dá prazer.
A
edição de julho da TOPVIEW traz ainda:
- Um guia fundamental da moda masculina e paranaense;
- Um
ensaio sobre as novas masculinidades no século 21;
-
Papo Final com Jaques Brand, o Goura;
- 5
líderes falam sobre liderança na atualidade;
-
Maria Dolores, Cintia Malaquias e Eliza Schuchovski estreiam como embaixadoras.
** Fotografia: André Sanches/TOPVIEW
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