ARTES PLÁSTICAS, CURADORIA INCLUSIVA E "LETRAS URBANAS NA BIBLIOTECA DA UP

Artes plásticas, curadoria inclusiva e “letras urbanas” são tema de exposição em Curitiba    

  A ideia da mostra é garantir que deficientes visuais tenham

acesso às obras por meio da audiodescrição 

No áudio, a voz que aguça e conduz a imaginação: “A tela possui o recorte de uma paisagem de praia, na parte superior está o céu em azul celeste e ao fundo uma montanha na cor marrom rodeada pelo mar em tom de cinza. Do lado direito inferior aparecem pedras sobrepostas, que ficam entre o mar e a faixa de areia, na cor bege.” O áudio explica do que se trata a obra do médico e pintor Roberto da Silveira Moraes, uma das telas da exposição “Além da Margem”, em cartaz até o dia 16 deste mês, na biblioteca da Universidade Positivo. 

A curadora, Jaqueline Jerônima Silva, é formada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal de Goiás e é especialista em História Social, Comunicação e Cultura. Ela conta que desde o início a mostra foi pensada para ser inclusiva: “Eu fiz a exposição para eles (deficientes visuais), porque para mim a questão da inclusão sempre foi importante. Ainda pecamos muito como sociedade. Precisamos tratar todos como seres humanos. Eles têm uma deficiência, mas se você der as condições todos podem ser incluídos e caminhar juntos, dentro da margem”, afirma ela.  

Na próxima sexta-feira (9) um grupo formado por cerca de 10 deficientes visuais fará uma visita à exposição. Os integrantes serão guiados por Hélcio Luiz Croseta, artista plástico e um atleta guia voluntário do Grupo Radar DV, criado em Curitiba no ano de 2016 com o objetivo de dar mais condições de acessibilidade e inclusão aos deficientes visuais. “Eu já levei o grupo ao Museu do Olho, na parte das esculturas, e eles puderam tocar, sentir, foi uma experiência muito legal. Agora, vão poder escutar, acredito que vai ser muito especial também”, conta o guia, que também é artista e tem um ateliê de pintura.  

Os deficientes visuais terão acesso às obras por meio da audiodescrição: as peças contam com QR Codes e as telas são descritas em áudio. Ao todo, são 15 telas que contam com o código que dá acesso aos áudios explicativos.  

Além da arte plástica e da curadoria inclusiva, a exposição foca em uma manifestação cultural e popular que se manifesta nas chamadas “letras urbanas”, ou design vernacular. São as letras presentes em fachadas, em cartazes ou em produtos em estabelecimentos populares. A ideia de valorizar esse tipo de manifestação cultural surgiu a partir de um trabalho apresentado como produto final da Especialização em Comunicação e Cultura da Universidade Positivo.  

Além de Jaqueline, assina a autoria do trabalho Letícia Wolf, formada em Design de Programação Visual pela UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville e especialista em Comunicação e Cultura. Entre os destaques da trajetória de Letícia está o projeto acadêmico de graduação da designer, que foi selecionado e participou da 13ª Bienal Brasileira de Design Gráfico. 

Todas as telas foram cedidas à exposição pelo autor das obras, o médico e pintor Roberto da Silveira Moraes, que se define como um apaixonado pela arte. “Fiquei muito entusiasmado com a ideia da exposição, mandei fazer as molduras, abracei a causa”, conta ele. 

O fato da exposição contar com um caráter inclusivo também foi fundamental para que o autor contribuísse com o projeto. “A grande maioria dos indivíduos acha que o deficiente visual está excluído das artes, mas ele pode ouvir e sentir dentro da mente, como se estivesse vendo”, explica o médico, que é formado pela FEMPAR e possui pós-graduação em nível de Doutorado pela Universidade Federal de São Paulo. Ele pintou pelo menos 300 quadros durante os três anos de pandemia. “Era uma forma de eu ter uma atividade e consolidar os ensinamentos dos mestres Fernando Calderari e Theodoro De Bona, com os quais convivi nos anos 80”, acrescenta.

Desse tríplice encontro, tal qual o da tinta, do óleo e da tela, entre um médico e apaixonado pela arte, Roberto da Silveira Moraes, que frequentou e foi influenciado pelo que viu no ateliê do amigo, o guia e artista plástico Hélcio Luiz Croseta, com a curadora e grande responsável por fazer tudo acontecer, Jaqueline Jerônima Silva, nasceu a exposição Além da Margem. 

A mostra segue até o dia 16 na Biblioteca da Universidade Positivo. Por meio de uma profusão de formas, cores, signos e perspectivas, o recado aqui é bem claro: a arte se projeta para além do enxergar: ela fala também aos outros sentidos. Basta para senti-la.

Serviço: Exposição Além da Margem
Data: De 21 de Outubro a 16 de Dezembro
Local: Biblioteca da Universidade Positivo – Setor B. 

Legenda: 
Curadoras - Jaqueline Jerônima Silva (esq.) e Letícia Wolf, responsáveis pelo trabalho de curadoria inclusiva que resultou na exposição Além da Margem (Divulgação).



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