SOTERRAMENTO É A PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DE THALES BISPO EM PARANAGUÁ

O artista visual Thales Bispo, está na capital onde veio aprimorar seus estudos em arte, é aluno na Academia do Museu Casa Alfredo Andersen, natural de Paranaguá, litoral paranaense.

Na próxima semana, dia 11 de Novembro, às 19 horas será inaugurada a sua primeira exposição de arte, denominada SOTERRAMENTO, na Casa Monsenhor Celso, no Centro Histórico de Paranaguá.  

Em conversa breve com o jovem artista consegui captar sua motivação, nas suas idas e vindas ao litoral, sua busca incessante recolhendo objetos, pedaços de madeira e outros materiais que vai guardando e ao mesmo tempo procura ressifignicar com sua criatividade. 

Sobre linha de criação/tecnica: "A ideia de ‘soterramento’ flui em todas as esferas do processo criação do artista, seja no sentido técnico, estético, de pesquisa ou narrativo. Em determinado momento, a referência visual dos sambaquis - influência nessa produção - toma corpo em seu trabalho, que é baseado na construção de imagens que parecem apagadas, ou encobertas, ou soterrados. Destacam-se duas técnicas e vertentes que dialogam com a simbologia do soterramento e da arqueologia da pintura." 

A primeira delas, é o uso de uma ‘massa’ produzida com verniz e areia, que é utilizada como material capaz de encobrir a primeira camada de tinta do suporte. Esse processo esconde parcialmente a imagem abaixo, e deixa vestígios de soterramento dessa pintura, que levam o observador a também pensar e produzir a imagem que ali está encoberta.  

O espectador ao percorrer o ambiente da exposição vai se deparar com os muitos meadros e caminhos percorridos, numa linha estética e observar a produção do artista.  


Sobre o artista Lavalle escreveu: 

Thales Bispo constrói seu imaginário a partir da relação entre pintura, arqueologia e história. Seu trabalho, marcado por questões políticas, sociais e ecológicas, coloca em evidência o litoral paranaense e as culturas antigas dos povos originários que ali habitaram e deixaram suas marcas por meio de construções formadas por acúmulos de conchas, corpos, artefatos e sedimentos, conhecidos como sambaquis.

Sua produção se divide em diferentes séries, cada uma com suas particularidades, onde  técnicas e processos se entrelaçam, desdobrando em pinturas, pinturas-objeto, processos gráficos, colagens e instalações.

Essas produções têm em comum um raciocínio pictórico em suas construções. Essa qualidade evidencia o artista como um dos mais inventivos de sua geração, atento a questões que ultrapassam o campo das narrativas ambientais e se estendem às preocupações formais da pintura. Em seus trabalhos, Thales traz referências de diferentes artistas e processos híbridos. Podemos citar Hélio Oiticica como uma influência fundamental, de quem aprendeu a pensar o espaço e propor desdobramentos expandidos da pintura.

Nesta exposição, Bispo apresenta produções diversas que se complementam. Suas construções pictóricas partem da apropriação de fotografias que, resignificadas, unem passado e presente, fazendo pensar sobre a paisagem e suas drásticas transformações. Nos retratos, o artista estabelece um mapeamento dos povos que habitaram e que ainda habitam o litoral, propondo uma ligação entre o povo  sambaquiano com a cultura caiçara, unindo passado e presente.

Utilizando diferentes suportes, Thales desenvolve frottagens (técnica de impressão sobre tecido a partir de superfícies texturizadas), criando padrões de cor e forma inspirados nos sambaquis. Essas superfícies tornam-se pontos de partida para representações que evocam a flora, a fauna e as paisagens típicas do litoral paranaense.

Seus processos se expandem ainda mais nas pinturas que dão título à exposição. Elas partem de fundos em tinta acrílica sobrepostos por areia e resina, remetendo à geografia das baías paranaenses, como se as veias dos rios e os sedimentos da história se depositassem sobre a superfície pictórica. Essas camadas configuram o que o artista chama de “Soterramento da Pintura”. A obra se cobre para se revelar: a superfície se espessa até lembrar a textura porosa das rochas e das conchas calcificadas.

O ato de enterrar a pintura torna-se ritual. Podemos pensar aqui uma relação com os sepultamentos sambaquianos, nos quais os corpos eram cobertos por camadas de conchas, solidificando-se como parte da paisagem. Essa sobreposição simbólica entre corpo e matéria reverbera em sua pintura. O gesto de cobrir é também o gesto de revelar. É, portanto, também um gesto político, uma crítica aos impactos causados pela exploração desordenada desses sítios arqueológicos.

Os suportes utilizados pelo artista são variados e ricos: vão desde tecidos convencionais e crus até madeiras provenientes de embarcações caiçaras, como tábuas, lemes e assoalhos. Esses materiais são  combinados, resultando em pinturas-objeto. As cicatrizes, marcas de maresia e erosão, são mantidas como inscrições do tempo. A pintura não domina o suporte: divide espaço com as peculiaridades desses materiais, textura, cor e formato.

Os trabalhos de  Thales Bispo se estruturam em torno do equilíbrio entre o que emerge e o que permanece soterrado. A pintura revela o intervalo entre essas duas forças, entre o que está acima e o que está abaixo. Nessa tensão, se delineiam questões que investigam o território, o corpo e a memória, mas também o próprio lugar da pintura, ou os muitos lugares onde ela pode se revelar.

Na série Matéria Suspensa, o artista recolhe madeiras em suas caminhadas pelo litoral, incorporando esses fragmentos como suporte para a pintura. Sobre essas superfícies marcadas pelo tempo, combina tralhas de pesca,  boias, chumbadas, redes e anzóis  que passam a integrar o campo pictórico. Esses elementos, tornam-se parte da própria construção da imagem, resultando em pinturas-objeto.

O litoral paranaense, em sua materialidade e espiritualidade, é o chão simbólico dessa produção. Os sambaquis, corpos calcificados do passado, tornam-se espelhos da própria pintura, monumentos feitos de camadas, sedimentações do tempo e do gesto humano.

Bispo faz da pintura um ato arqueológico e político. Suas obras, entre o visível e o encoberto, nos lembram que a arte também é uma forma de escavar o tempo e devolver à luz aquilo que, mesmo soterrado, ainda reverbera e tem importância. 

A exposição Soterramento, poderá ser vista pelo público de 11 de novembro a 12 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, aos sábados das 9 às 12 horas, na  Casa Monsenhor Celso, na Praça do Marco Comemorativo do Tricentenário, Centro Histórico de  Paranaguá - PR

O artista Thales Bispo: conta com a orientação e Curadoria de Lavalle.  



Serviço: Exposição de arte SOTERRAMENTO
Abertura: 11/11/2025, às 19 horas 
Período expositivo: De 11/11 a 12/12/2025
Horário de funcionamento: segunda a sexta 8h às 18h. 
Aos sábados 9h às 12h 
Endereço: Praça do Marco Comemorativo do Tricentenário - Centro Histórico, Paranaguá - PR


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