DELICADAS RELAÇÕES DE BERGMAN NO FESTIVAL DE CURITIBA
Em 1978, Ingmar Bergman
levava às telas “Sonata de Outono”, drama intimista e complexo que expunha um
delicado acerto de contas entre mãe e filha afastadas há anos. As duas eram
vividas, respectivamente, por Ingrid Bergman, em sua última atuação no cinema, e
Liv Ullmann, a atriz favorita do diretor. Desde então, o roteiro, indicado ao
Oscar, tem ganhado diversas versões para os palcos em todo mundo. Daniel
Veronese, um dos mais celebrados dramaturgos e diretores argentinos
contemporâneos, imprime sua marca com esta montagem.
Para adaptar o texto de
Bergman, ele buscou uma montagem impactante que ganha força graças ao trabalho
de seus três atores em cena. “Sonata de Otoño”, que tem percorrido a América do
Sul, é um dos destaques internacionais da Mostra do Festival de Curitiba deste
ano.
De acordo com Veronese,
a principal motivação em adaptar o texto de Bergman foi o conteúdo da obra e a
força das personagens, o que exige um grande envolvimento dos atores. “É uma
obra emblemática. Para a montagem, pensei em atrizes que já tinha em mente e na
encenação como um todo”, diz ele.
Para dar vida aos
profundos sentimentos que envolvem a relação de Charlotte, uma famosa pianista
que decide visitar a filha, Eva, anos depois de sete anos sem contato, Veronese
elegeu uma dupla de atrizes que tem arrancado elogios por onde a peça passa.
Laureada na Argentina, Cristina Benegas é a mãe que volta para perto da filha,
vivida por María Onetto – do aclamado filme Rompecabezas (ou
Puzzle, título em inglês) – e reascende uma série de ressentimentos
guardados ao longo de seus 40 anos. Completa o elenco o ator Luis Ziembrowski no
papel de Viktor, marido de Eva, e Natacha Cordova, como Helena, a neta
cadeirante.
Segundo o diretor, um
dos principais destaques do espetáculo é o trabalho dos atores, marcado por
muita personalidade e entrega. Veronese também imprime na montagem suas marcas
pessoais. “Como sempre ocorre com meus trabalhos, busquei
sugerir mais do que explicitar, de modo que o público veja os acontecimentos
como se observasse algo que não deveria estar sendo exposto”, revela.
Com a ação passada em
apenas um ambiente e sem troca de luz, Veronese dissimula, com sua encenação, as
transições e a passagem do tempo em cena. “Mas não há nada subtraído. Há emoções
que se alternam até lugares difíceis de suportar, mas sempre dentro da energia
teatral dominada com perfeição pelos três atores”, confessa.
Nas apresentações na
Mostra do Festival de Curitiba, Sonata de Otoño será encenada em espanhol, com
legendas simultâneas em português.
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