MALVINO SALVADOR INTERPRETA O "BOCA DE OURO" PERSONAGEM DE NELSON RODRIGUES
Montagem com direção de Gabriel Villela é repleta de música e simbologias do
Candomblé e das mascaradas
astecas
O bicheiro Boca de Ouro, personagem
icônico do submundo carioca, criado por Nelson Rodrigues, ganha toques
mitológicos na adaptação que o diretor Gabriel Villela apresenta na Mostra 2018 do Festival de Curitiba, nos dias 31 de Março, às 21h, e 1º de Abril, às 19h, no Guaírão.
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O ator Malvino Salvador. Foto: João Caldas. |
O personagem, interpretado pelo ator
Malvino Salvador, é um lendário bicheiro carioca, figura temida e
megalomaníaca, que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma
dentadura de ouro e que também é conhecido como Drácula de Madureira. Quando
Boca é assassinado seu passado é vasculhado por um repórter. A fonte é dona
Guigui, a volúvel ex-amante do contraventor, uma mulher que, ao longo da peça,
revela diferentes versões do bicheiro, interpretada por Lavínia Pannunzio.
Os atores Mel Lisboa e Claudio Fontana
fazem o casal Celeste e Leleco. Já Leonardo Ventura interpreta o fiel e
apaixonado marido de Guigui, Agenor. Chico Carvalho é Caveirinha, o
repórter rodrigueano, que carrega em si o olhar afiado e crítico do
dramaturgo-jornalista, que durante anos trabalhou em redações e conheceu de
perto os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina
Maria Luiza. Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o
elenco. Jonatan Harold assume o piano desta gafieira carioca oferecendo a
ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar as canções
imortalizadas por Dalva de Oliveira.
Como toda a ação proposta por Nelson Rodrigues parte da mente
contraditória de Dona Guigui, as diferentes narrativas da personagem são
exploradas pelo encenador de forma muito diversa. A cada versão de Guigui, a
arena de Gabriel Villela circula, ressaltando o espaço arquetípico convergente,
assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se
encerra.
Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da
simbologia do Candomblé e das mascaradas astecas no espetáculo. A casa de
Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura
de Iansã (Guilherme Bueno) aparece toda vez que uma cena de morte
acontece. Iansã faz a contrarregragem das mortes da história. O Brasil cabe
todo nesta arena: a política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa
da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música. Retratos de uma época que nos
mostram que o Brasil pouco mudou e, que nosso dramaturgo nascido em Pernambuco
em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.
A montagem recebeu
sete indicações ao prêmio Aplauso Brasil: melhor ator (Malvino Salvador),
melhor atriz (Lavínia Pannunzio), melhor ator coadjuvante (Chico Carvalho),
melhor atriz coadjuvante (Mel Lisboa), melhor direção (Gabriel Villela), melhor
cenografia (Gabriel Villela) e melhor espetáculo. Mel Lisboa também foi
indicada aos Prêmios Shell de Melhor Atriz e Aplauso Brasil de Melhor Atriz
Coadjuvante. O diretor Gabriel Villela também foi indicado ao Prêmio Shell SP e
a peça foi escolhida a melhor do ano pelo jornal O Estado de São Paulo.
Festival de Curitiba
Boca de Ouro - Teatro Guaira, às 19h.
31 de MARÇO ÀS 21h E 1º DE ABRIL.
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